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TAPas, Rui Moreira, Holandeses e Escaldões - Análise Semanal


Esta semana foi rica em desenvolvimentos de âmbito político nacional, onde uns temas foram bem dissecados e outros passaram um pouco ao lado da crítica. Neste momento estamos a caminho da terceira fase de desconfinamento, vamos avançar mais um passo em direção à normalidade que vivíamos pré-pandemia, mas nem tudo é um mar de rosas. Voltou a falar-se na TAP, em mais um assunto “empresas onde o estado está envolvido”, e também não foi pelos melhores motivos. Um dos mesmos intérpretes do episódio TAP, Rui Moreira, é também motivo de escrutínio pelo seu envolvimento nos mundos do futebol e da política. Foi uma semana onde foi essencial olhar para fora, para a União Europeia (UE), e para o que podemos contar para o futuro. Vamos então olhar para o que aconteceu, escrutinando o que de mais interessante se passou pelo nosso país. Esta é a análise da nossa semana política!

Caminhando com o bicho.
Caminhamos de mãos dadas (não literalmente, não se esqueçam das normas!), por entre uma pandemia, para uma normalidade há muito desejada. Muitos de nós, os mais velhos, já não se lembravam do que era estar privado das mais básicas liberdades, outros nem sequer conheciam esse cenário de privação, ao passo que outros até estavam a gostar demasiado do sofá para o largarem. Mas depois de muita Netflix, este mês de maio ficou marcado pelo desconfinamento progressivo (clique para ver artigo), onde duas fases já se passaram e uma terceira está mesmo na calha para entrar. O país na sua totalidade, em questão de casos, pouco se manifestou (embora haja tendência para aumento) com a abertura parcial do modo de vida, mas nota-se um cheiro esquisito a normalidade em demasia. As praias e as ruas foram-se enchendo sob a teoria de que o vírus se propaga mais em espaços fechados, portanto ao ar livre depreende-se que seja à grande e à francesa (clique paraver artigo). Esta teoria é perigosa e muito pouco cautelosa. Claro que o desconfinamento era (e é) necessário, podia até ter ocorrido mais cedo, mas algumas privações devem ser mantidas e as regras não devem deixar de ser respeitadas. Fomos premiados por sermos proativos e conscientes aquando do início da pandemia, não podemos deixar que esse sucesso nos cegue daqui em diante.
Grande parte da economia já começou a carburar e já se notam os negócios a mexer, o que é ótimo para o equilíbrio financeiro português, mas qual o preço a pagar para pôr a economia a funcionar? O país tem-se estabilizado, mas a região da área metropolitana de Lisboa tem sofrido um aumento de casos que já colocou em estado de alerta o governo e a DGS (clique para ver artigo). Se o vírus tinha decidido castigar o norte do país no início, decidiu que agora era a vez de castigar Lisboa e vale do Tejo (prometo que não vou bater na TVI). Mas o vírus não olha a quem afeta, e nota-se que a população mais desfavorecida e em dificuldades na zona de Lisboa é claramente a mais afetada (clique para ver artigo). Consegue-se perceber que é motivador dizer que estamos todos no mesmo barco, faz saltar o nosso ímpeto nacional e lutar com todas as nossas forças contra um inimigo em comum. Mas, mesmo estando no mesmo barco, uns estão no camarote bem resguardados enquanto outros estão todos amontoados no convés, quase sem ar, sem provisões e sem condições para muito mais tempo de viagem. Uma viagem que, segundo avança o Diário de Notícias, só terá o seu pico na longínqua terceira semana de junho (clique para ver artigo). Este aumento pode ser ainda curto e localizado, mas não deve ser menosprezado, de todo.

TAPas, e demais iguarias.
Esta foi ainda uma semana onde surgiu mais um caldinho saboroso confecionado pela comissão executiva da TAP. A transportadora já tinha dado que falar quando o ministro Pedro Nuno Santos avisou, qual Michael Knight dos tempos modernos, que traria artilharia pesada para a mesa de negociações com a TAP, e que só se colocaria dinheiro dos portugueses na empresa se o Estado assumisse mais controlo sobre a mesma, já que os acionistas privados não estavam dispostos a mais investimento (clique para ver artigo). Nessa altura o deputado do CDS, João Gonçalves Pereira, que defendia que se deveria dar apoio financeiro à empresa sem a nacionalizar, ou seja, sem assumir controlo sobre a mesma, foi brutalizado pelo ministro, fazendo lembrar o que fazia Mike Tyson aos seus oponentes nos seus tempos áureos. O nosso David Hasselhoff português, Pedro Nuno Santos, lançou tiradas como: “E se a empresa não pagar, o empréstimo é de quem? É do povo português. Deve o povo português pagar e o privado continuar a mandar?” e como “é uma fezada acreditar que a companhia vai pagar os 350 milhões do empréstimo mais os 850 milhões de dívida”, (clique para ver artigo) arrasando com a concorrência da altura.
Desta vez a polémica foi diferente. A comissão executiva da transportadora aérea lançou o seu plano de voos para junho e julho deste ano, depois de levantadas as restrições às transportadoras, mas o plano estava um poço de parcialidade. Dos 27 voos semanais programados para junho, nenhum voo internacional estava programado para sair de e para o Aeroporto Sá Carneiro, ao passo que em julho, dos 247 voos, haveria apenas 5 voos internacionais de e para o Porto. As respostas não se fizeram tardar, e Rui Moreira foi um dos mais críticos (clique para ver artigo), a par do Sindicato dos trabalhadores dos transportes da área metropolitana do Porto (clique para ver artigo), dos partidos com assento parlamentar e do próprio primeiro-ministro (clique para ver artigo). O Presidente da Câmara do Porto acusou a transportadora de ser do interesse regional ao invés de ser do interesse nacional, e reforçou que a ser desta forma deveria ser financiada pela região de Lisboa e não pelo país. Já António Costa avisou que a empresa não tinha credibilidade para definir o plano de rotas sem informação prévia sobre as estratégias de reabertura de fronteiras de Portugal. A TAP reagiu às críticas e anunciou que iria ajustar os planos de rotas anunciados até ao momento (clique para ver artigo), mas Rui Moreira voltou ao ataque acusando a companhia aérea de ter uma visão exclusivamente turística do Porto (clique para ver artigo).
Não tirando a razão a todas as vozes críticas que se levantaram, é necessário fazer uma avaliação do que tinha em mente a TAP com estes planos. A TAP é uma empresa que se tenta balancear constantemente entre o serviço público e o desempenho de estratégias rentáveis. Não se conseguem ter estas duas vertentes a funcionar ao mesmo tempo, pelo que é difícil gerir uma empresa como esta sem ser exposto a críticas. Ou bem que se fazem rotas do interesse nacional, descartando a proposta de rentabilidade dos voos, ou então esquece-se a parte do serviço público e fazem-se as rotas e os serviços em função da rentabilidade exigida e planeada. O Estado tem de se decidir quando injetar mais capital na empresa, ou o faz sob a forma de empréstimo e dá liberdade à gestão para decidir como deve colocar a empresa a dar lucros, ou então injeta capital na empresa e fica com o controlo da gestão, colocando as rotas que melhor servem o país sem olhar aos lucros efetivos da empresa. Notou-se uma crítica muito fácil, apesar de verdadeira, em todo este processo, contudo é um assunto que merece mais reflexão e menos populismos.

Casamentos à moda do Porto.
É tempo de eleições para os lados do Dragão, com Pinto da Costa a ser apontado a mais uma vitória em direção à presidência do clube. Mas isso não é novidade, nem é chamado para uma opinião política. Ou melhor, não seria, se não se fizesse uma versão dos casamentos de Santo António com sotaque nortenho, uma espécie de casamentos de S. João com os noivos vestidos de azul e branco. Passo a explicar: Pinto da Costa apresentou a sua lista para os órgãos do FC Porto, lista essa onde constava, entre outros, o nome do atual Presidente da Câmara do Porto (clique para ver artigo). Num casamento entre um eventual presidente do FC Porto e o Presidente da Câmara da própria cidade pode surgir muita coisa, como o sucesso por exemplo, assim como também pode surgir conflito de interesses. Esta integração por parte de Rui Moreira na lista de Jorge Nuno Pinto da Costa diz muito do que o Presidente da Câmara pensa que pode ser a sua isenção nas questões que correlacionam os interesses da cidade com os interesses do clube. É certo que esses conflitos vão surgir, e é imoral e bastante parcial ter alguém com tanto poder dentro da cidade inserido no clube. Os portuenses deviam estar mais alerta, o futebol não deve ser nem é mais importante do que a cidade e do que os habitantes.
Mas não só Rui Moreira se perfila na lista de Pinto da Costa, também Manuel Pizarro, vereador do Partido Socialista na Câmara do Porto, e Eduardo Vítor Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal de Gaia, fazem parte da lista candidata ao clube do Dragão. Estes são dois membros com cargos políticos de relevo que eventualmente podem estar dentro do clube em pouco tempo, mas também surge outro nome conhecido dos portugueses, o de Luís Montenegro, que já teve funções políticas de alto relevo e que, até há bem pouco tempo, tinha ambições bem altas dentro do PSD. Este chorrilho de políticos da lista de Pinto da Costa, que quase fazem lembrar a administração da EDP, está bem montado para uma boa manipulação à moda antiga, mas nós portugueses vamos acreditar na isenção e na idoneidade de todos eles, até prova em contrário.

Como é que se diz “vão dar banho ao cão” em Holandês?
Diz-se “ga de hond baden”, ou algo parecido, mas passo a explicar para ser mais compreensível. A União Europeia, pela voz de Paolo Gentiloni, vai propor um fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros para que o velho continente possa superar a crise provocada pelo coronavírus (clique para ver artigo). Esse valor será redistribuído pelos Estados-membros através de subvenções, no valor de 500 mil milhões, e através de empréstimos, no valor de 250 mil milhões de euros. Ainda não está completamente certo que isto vá acontecer desta forma, nem se sabem as “letras pequeninas” que vêm anexadas a estes pacotes de ajuda europeia, mas o que é certo é que a União Europeia dá mostras de que pretende responder com força ao descalabro económico provocado pela pandemia.
Na sequência desta proposta franco-alemã de ajuda europeia, as críticas não se fizeram tardar. A resposta mais forte e que mais me tocou foi a da revista holandesa Elsevier Weekblad, que criticou severamente a proposta de ajuda e que, mais uma vez, não poupou críticas aos países do sul da europa, onde nós estamos incluídos. Classificaram as ajudas de perversas e os países do sul como não sendo pobres, dando a entender que temos dinheiro suficiente para não andar a “pedinchar” aos países do norte (clique para ver artigo). Para dar mais colorido a todo este circo noticioso, a capa da revista trazia uma imagem onde se podiam ver trabalhadores do norte da europa a fazer mover uma engrenagem, ao passo que os do sul estavam a descansar e a beber vinho, e também a viver as suas redes sociais (clique para ver a capa). Pode ler-se também como títulos: “Porque o plano de Merkel e Macron de doar 500 mil milhões de euros não é bom” e “Nem mais um cêntimo extra para o sul da europa!”. Não é a primeira (nem a segunda, nem a terceira…) vez que lemos e ouvimos comentários deste tipo vindos de vozes holandesas, estamos a ficar bastante acostumados a levar com eles e, constantemente, não fazemos nada para mudar o rumo dos acontecimentos. A Holanda é conhecida por ser um paraíso fiscal dentro da União Europeia, e Portugal, de tão amigo que é dos paraísos fiscais, tem muitas empresas que se foram sediar lá (para pagar menos impostos, claro) mas que continuam a fazer a sua vidinha normal no nosso país. Pior, empresas estas que colocaram os seus trabalhadores em lay-off e pediram apoios a Portugal em plena crise pandémica, mesmo pagando os seus impostozinhos no seu paraíso fiscal. E o que é que nós fizemos quanto a isso? Nada! Até chumbamos no parlamento projetos de lei do PCP e dos Verdes para excluir entidades sediadas em paraísos fiscais de quaisquer apoios públicos à economia (clique para ver documento 1; clique para ver documento 2). Só para que conste, votaram a favor da exclusão dessas empresas aos apoios portugueses o BE, o PCP, o PAN, os Verdes e a deputada Joacine K.M., votaram contra o projeto de lei PS, PSD, CDS e IL (o Chega não esteve presente nas votações) (clique para ver as votações). Estamos acostumados às críticas holandesas e, pelos vistos, não queremos nem fazemos lá grande coisa para mudar o rumo dos acontecimentos. Por isso eu proclamo: amigos holandeses, “ga de hond baden” pá! E já agora um grande “ga de hond baden” aos nossos amigos deputados que chumbaram o projeto de lei. Um grande “ga de hond baden” a todos vocês, amigos da onça!

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