Esta
foi uma semana marcada, essencialmente, por momentos políticos internacionais.
Um ato de desrespeito e de tremendo exagero por parte de 4 agentes
norte-americanos, que participaram na morte de George Floyd, despoletaram uma
onda de protestos nos Estados Unidos e um pouco por todo o mundo. E, por aqui,
andamos a contas com quase-ministros estrategas e com sondagens de intenções de
voto. Vamos a mais uma análise semanal! Desta vez mais pequena que a anterior,
para não terem de marcar férias só para ler um artigo meu.
Foi
com pompa e circunstância que o Expresso noticiou, ainda no final da outra
semana, a aquisição de António Costa e Silva (ACS) como conselheiro do governo
(clique para ver artigo), uma espécie de ministro sem o ser, um para-ministro.
António Costa e Silva (ACS) é um gestor renomado, que atualmente está à frente
da Comissão Executiva do Grupo Partex, e muitas foram as vozes que se
apressaram a elogiar a sua inteligência e capacidade estratégica. A primeira
ideia que se levantou foi a de que o gestor vinha para a remodelação do
Governo, ocupando o lugar de Pedro Siza Vieira como Ministro da Economia,
enquanto este iria tapar o buraco deixado de vago pelo futuro governador do
Banco de Portugal, atual Ministro das Finanças (dizem as más línguas).
Prontamente, o próprio ACS veio desmentir a ideia (clique para ver artigo),
anunciando que viria apenas ser uma ajuda ao Governo no planeamento dos
próximos 10 anos, que vinha falar com partidos, parceiros e empresas, tarefas
essas que o Bloco e o CDS rejeitaram que ele também exercesse (clique para ver artigo).
Esta
notícia deixou na minha boca um sabor agridoce. À partida, depois de ver o
currículo que enverga o senhor ACS e depois de analisar ao de leve a proposta,
fiquei com a sensação de que era uma boa ideia por parte do primeiro-ministro
(PM). Pronto, eu passarei a explicar. Vem da União Europeia uma grande
quantidade de dinheiro a fundo perdido (à partida, vamos ver se não nos cativam
à boa maneira do Centeno) e, consequentemente, temos de ser bem eficazes na
distribuição e aplicação desses elevados montantes. Se estivéssemos nos anos 80
ou 90 esse dinheiro, antes sequer de chegar, já sabia quem lhe era o seu dono. Vinha
com trela, nome e tudo. Como tal, para tentarmos não cair no mesmo erro de
outras décadas, quantas mais pessoas íntegras, inteligentes e capazes estiverem
em posições de decisão, tanto melhor, e o ACS parece ser uma figura capaz e
sábia. Para além disso, o gestor não é amigo de António Costa, não tem a mesma
ideologia política que ele, nem tem nenhuma opção partidária (tanto quanto se
sabe). O que torna toda a ideia mais atrativa.
Mas
nem tudo é assim bonito que nem um processo do António Mexia, não fiquem com
essa imagem errada! Em tempos idos, lá do Governo de Pedro Passos Coelho, foi
nomeada uma figura externa ao governo para liderar dossiês difíceis, o António
Borges (clique para ver artigo). E, tanto quanto nos lembramos, os resultados
dessa escolha não foram os melhores. Não estou a querer passar a ideia de que
ir captar talentos externos ao ambiente político para ajudar o Governo em
situações especificas seja mau. É uma ideia excelente e que pode muito bem
ajudar neste planeamento a 10 anos. Mas não é sinónimo de sucesso, foi essa a
mensagem que o Sr. António Borges nos passou. Também a confusão inicial com
toda esta situação foi caricata e deixou-me com uma pulga atrás da orelha, a
coçar que nem um cão hiperativo. Primeiro o convite feito pelo Costa 1 (PM) ao
Costa 2 (ACS) foi feito ainda em abril, no dia 24, e tudo no maior secretismo.
Tão secreto que só foi descoberto o convite em finais de maio, quando foi
noticiado pelo Expresso (clique para ver artigo). Este secretismo digno do
Santuário de Fátima faz questionar a transparência do processo e a
confiabilidade de toda a situação em si. Além das questões de transparência,
levantam-se ainda mais duas de valor igual ou superior: a questão do conflito
de interesses e a questão do pagamento ao ACS. O ACS é Presidente da Comissão
Executiva de um Grupo com enorme influência no setor energético, até que ponto
esta posição de poder que o gestor vai assumir não pode ser significado de aproveitamento próprio e abuso de poder? Não quero duvidar da integridade e da
seriedade do Professor ACS, mas eu também não duvidava do Paulo Portas e foi o
que foi, por exemplo. Para ajudar à festa, ACS não vai deixar as suas funções
no Grupo Partex, assim como também não vai levar um cêntimo pelo
desenvolvimento do Plano de Retoma Económica. Vai executar todo o seu trabalho
“pro bono” (clique para ver artigo). Significa de graça, à pala, sem levar
pilim nenhum. Eu não sei das vossas experiências, mas de todas as vezes que me
fizeram trabalhos de graça, não posso dizer que a maior parte delas foi
bem-sucedida. Até porque depois surge a desculpa: “também de graça querias o
quê?”. Será que este trabalho, transposto agora para uma situação de nível nacional,
vai correr bem? Esperemos que sim, já que a União Europeia nos vai dar armas
para uma retoma económica.
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