Foi com
muito interesse que acompanhei as eleições para as Europeias em maio deste ano,
basicamente porque tinha um elevado interesse em saber como reagiria a Europa
às votações. Essencialmente interesse em saber que caminhos escolheriam os
europeus, e mesmo em que percentagens aumentariam as extremas-direitas e as campanhas
ecologistas. Decidia-se ali grande parte do futuro do velho continente, e a
preocupação em antever possíveis cenários futuros apoderou-se de mim.
Mas o que realmente me intrigou dentro deste turbilhão de
interesses foi um “movimento” denominado abstenção, que eclodiu em Portugal com
uns maravilhosos (passo a ironia) 69.3 pontos percentuais. Todos os partidos
estavam importados com a abstenção no momento das eleições, até o Presidente da
República teve direito de antena nos canais de sinal aberto para mostrar aos
eleitores a importância do seu voto. Mas a direção para onde a abstenção se
dirige não se alterou em nada. Existem problemas que fazem com que este
fenómeno não pare de crescer desde 1975.
Os problemas que fazem a abstenção rebentar são diversos. Ouvi
alguns eleitores (e não foram assim tão poucos), através de reportagens
televisivas e não só, responderem que estava um ótimo dia de praia para se
fazerem votações. Acredita-se então que o clima não pode estar assim tão bom
para se fazerem eleições. Mas os portugueses também não gostam de chuva. Não
vão sair de casa num dia de chuva para votarem. Para que o português vá votar,
para que esse fenómeno extraordinário aconteça, tem de fazer exatamente 18
graus Celsius, com o céu meio encoberto, com um ventinho ligeiro agradável. Mas
sem sinal de chuva! E têm de estar presentes, também, imensos passarinhos das
mais variadas espécies na Junta de Freguesia aquando da sua votação, para dar
um ar primaveril e satisfatório à coisa. Os funcionários que recebem o
português eleitor na Junta têm de estar vestidos a rigor, como um médico
Europeu do século XIV, de cartola e bengala, e as canetas que estão nos habitáculos
têm de ter pompons no topo para se poder brincar enquanto se pensa em que
partido votar, nos casos de indecisão. Obviamente este cenário é irrealista,
mas serve para demonstrar o quanto é difícil convencer o português a votar. Mas
estes portugueses que são preguiçosos são apenas uma pequena parte da
abstenção. Existe outra variável que entra na equação abstenção.
O que realmente observo nesta abstenção, do que pude conversar
com vários tipos de pessoas e extrair dessa pesquisa, é a existência de um problema
de índole estrutural. Os eleitores desconhecem, em alguns casos, para o que é
que estão a votar, desconhecem os candidatos, as propostas, desconhecem o
sistema de votações. Mas não se podem atirar as culpas para a população
votante. Porque não lhes é ensinado o processo. Não lhes são dadas
oportunidades de perceber como tudo funciona. Ou os eleitores são autodidatas,
ou alguém chegado lhes explica o básico para que comecem a perceber o circuito.
Ou então não votam!
Agora, senhores políticos, em vez de se fazerem virgens
ofendidas com a população por não irem votar, que tal saber se elas estão em
condições de votar? Talvez não fosse má ideia incutir no nosso sistema de
ensino algumas noções de política, instruir os jovens para o que aí vem quando
completarem os 18 anos de idade. É um caminho que deve ser feito a meias, os
eleitores devem ter preocupação em perceber isto da política, o sistema
político deve procurar ensinar como tudo funciona.
Como síntese gostava de deixar uma palavra de esperança. Espero
que os eleitores que se abstiveram procurem pesquisar mais sobre política. Procurem
saber mais, votar de forma informada. O conhecimento não pesa! A política define
o nosso futuro, o rumo das nossas vidas. É como uma força invisível que pode,
na maior parte dos casos, traçar parte do nosso caminho. Não deixem a decisão
nas mãos de outros, não deixem que os grandes grupos controlem a seu bel-prazer
o que é nosso por direito. E que direito! Foi dificílimo de conquistar!
Perguntem aos vossos pais, avós, bisavós, eles saberão responder-vos de forma
apropriada!
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